sexta-feira, 5 de julho de 2013

Formação agroecológica no ensino fundamental e superior permeiam os debates

Por Sara Brito (Centro Sabiá)



A última mesa redonda do primeiro dia (03/07) do I Seminário Nacional de Educação em Agroecologia teve como título Formação e perfil profissional em Agroecologia e as demandas da sociedade brasileira. Com um público diverso com presença de professores, técnicos e estudantes de todas as regiões do país, o debate, mediado por Jorge Roberto Tavares de Lima, do Núcleo de Agroecologia e Campesinato da Universidade Federal Rural de Pernambuco (NAC/UFRPE), girou em torno dos desafios que permeiam o ensino da agroecologia no Brasil e caminhos a serem seguidos para a melhoria e adequação do tema no ensino fundamental e superior. 

Presente na mesa estava Aparecida do Carmo Lima, representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), compartilhando a experiência da Escola Milton Santos de Agroecologia, em Maringá, no estado do Paraná. A escola é um Centro de Educação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável dos Movimentos Sociais Populares do Campo onde são contemplados os ensinos pós-médio, integrado ao médio e a educação de jovens e adultos.

Segundo Aparecida, na Escola Milton Santos a busca é por uma educação contextualizada e direcionada para a reeducação do sujeito, que permanece inserido no campo e atento às ligações que o relacionam com o mundo. “A formação do nosso técnico não se resume à técnica. O método precisa dar conta da formação política, humana e de valores também,” explicou ela. “Precisamos formar sujeitos com compromisso de transformação social,” concluiu.

Alexandre Henrique Pires, coordenador geral do Centro Sabiá, também participou da mesa. Depois da exibição do vídeo Alvorada do Sertão – Educação Ambiental no Pajeú, produzido pelo Centro Sabiá, em parceria com Diaconia, Caatinga e Coopagel e com apoio do Projeto Dom Hélder Câmara, Alexandre falou sobre a necessidade da educação ambiental no ensino fundamental e também de uma formação profissional que leve em conta o cenário da agricultura familiar. “Se a formação profissional não dá conta de olhar para a variação de fatores da vida camponesa, ela não está dando certo,” afirma ele.

Alexandre lembrou também as dificuldades que a educação no campo enfrenta, como o fechamento das escolas em uma estratégia de desterritorialização do campo, a defasagem do ensino de agroecologia na formação dos professores, a formação tecnicista nas universidades e a falta de políticas públicas direcionadas para a melhoria dessas questões. “Um dos diferenciais que podemos seguir são os intercâmbios entre agricultores, técnicos e organizações, que dão conta da sistematização do conhecimento que envolve as experiências de agricultores. Essa troca de experiências pode ajudar e direcionar a formação na agroecologia,” reflete Alexandre.

O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR Litoral) Valdo José Cavallet refletiu e debateu sobre as dificuldades do ensino da agroecologia nas universidades. Ele lembra que os núcleos de agroecologia e campesinato dentro do ensino superior não são o padrão e sim os focos de resistência. “A agroecologia traz inserido nela o modo de vida e não o meio de vida. Práticas como essa devem ser continuadas,” afirma o professor. Para ele, o erro no processo de formação está em tentar encaixar o estudante em um processo único e engessador. Ele entende que o ensino da prática agroecológica deve ir além das paredes da sala de aula. “A formação jamais pode ser na prancheta. Ela pode ser na sala de aula, mas só é possível fazer formação de vida na vida,” finaliza. Após as falas, o microfone foi aberto para o público expressar seus questionamentos. 

Fotos: Sérgio Fidelis

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